Na contramão da recuperação

Na contramão da recuperação

02.12.2015

Temos acompanhando ao longo de 2015 todos os esforços do governo em tentar implementar o ajuste fiscal, o qual reconhecemos ser necessário e emergencial para a retomada da confiança e da credibilidade em relação à economia brasileira.

Entretanto, não podemos coadunar com os critérios utilizados e a forma atabalhoada com que o governo decide onde, quando e a forma de fazer cortes e ajustes no orçamento.

Sem se dar conta de que ao estrangular ainda mais a indústria e o emprego, gera mais recessão e, portanto, mais crise, o governo vem implementando pacotes e mais pacotes de maldades, que joga o país em uma espiral cada vez mais recessiva e agonizante para toda a sociedade brasileira.

Não podemos nos esquecer de que somente em 2015 a sociedade brasileira foi agraciada com um pacote de aumento de impostos: Elevação de IOF nos financiamentos e dos juros para financiamento da casa própria, volta da CIDE nos combustíveis, a não correção plena da tabela do imposto de renda, dentre outras.

Para a indústria, mais especificamente a de máquinas e equipamentos não foi diferente. Já havia sobrado a redução de aporte de recursos e a elevação de juros e diminuição da parcela financiada no PSI-FINAME, a reoneração da Folha de Pagamento (estas que vinham sendo as principais e, talvez, as únicas ferramentas capazes de minimizar a perda de competitividade sistêmica da indústria nacional de máquinas e equipamentos), a quase extinção do REINTEGRA etc.

E como se “pouca notícia ruim fosse bobagem” fomos surpreendidos com a notícia da interrupção, mais uma vez de forma abrupta, da linha PSI-FINAME. No último dia 26/10 fomos comunicados de que o prazo para protocolos de pedidos de financiamentos via PSI se encerrará em 30/10/15. Trata-se de mais um balde de água fria, um duro golpe na já combalida indústria de transformação. 

Somente o aumento de impostos e a penalização que vem sendo imposta ao setor produtivo não serão o remédio suficiente para recolocar a economia brasileira nos trilhos. Tais medidas só geram mais recessão e desemprego, tornando muito mais difícil e lento o duro caminho da recuperação, que tanto a nossa economia necessita.

Outros caminhos existem. Por exemplo, temos chamado a atenção, constantemente, para a elevada taxa SELIC (com o argumento de combate à inflação) que produz efeitos nefastos à economia e que vai totalmente na contramão do tão perseguido ajuste fiscal (cada ponto percentual de aumento da SELIC representa um gasto anual da ordem de R$ 10 bilhões para os cofres públicos. No ano a conta é da ordem de R$ 350 bilhões).

Todos esses equívocos fazem a indústria agonizar. É urgente que o governo anuncie, com a mesma celeridade que vem aumentando os impostos, a implementação de medidas capazes de promoverem a retomada da competitividade brasileira. Do contrário, somente a elevação de impostos, somada à crise política e econômica, vão levar toda a cadeia da indústria de transformação rumo à extinção, com o fechamento de milhares de postos de trabalho e, consequentemente, empobrecimento do país.

Esperamos que, com brevidade, venham a ser anunciadas medidas para a diminuição do Custo Brasil, simplificação do sistema tributário, redução dos spreads e juros escorchantes que são cobrados das empresas e a melhoria da infraestrutura brasileira, com o destravamento das concessões públicas. 

O governo precisa dar sinalizações claras, com urgência, de que irá implementar, medidas que possam recolocar a economia brasileira no rumo da retomada do crescimento.

A indústria está agonizando, mas se houver celeridade e vontade política ainda dá tempo!

 

Carlos Pastoriza, Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ / SINDIMAQ