Empresas estimam crescimento de receitas em 2017 e retomada gradual dos investimentos, aponta pesquisa inédita da Deloitte

Empresas estimam crescimento de receitas em 2017 e retomada gradual dos investimentos, aponta pesquisa inédita da Deloitte

10.11.2016

Após um período conturbado de dois anos, com crises nos campos econômico e político, gestores de empresas no Brasil começam a melhorar suas expectativas em relação aos negócios e apontam para um cenário mais positivo a partir do ano que vem. É o que mostra a pesquisa inédita Agenda 2017, realizada pela Deloitte com a participação de 746 organizações, das quais 25% estimam apurar receitas líquidas acima de R$ 1 bilhão até o término de 2016 e 32% são controladas por grupos estrangeiros.

De acordo com o levantamento, a soma das receitas líquidas previstas por todas as organizações participantes deve chegar a R$ 1,739 trilhão em 2017, valor nominal 8,3% maior que o R$ 1,606 trilhão esperado para 2016. Como referência, este último valor é equivalente a pouco mais de um quarto do PIB (Produto Interno Bruto) estimado pelo Banco Central do Brasil (BCB) para o período de 12 meses encerrados em setembro passado (R$ 6,1 trilhões). A alta de 8,3% deve ficar, portanto, acima da inflação esperada em cerca de 5% para o ano que vem, segundo estimativas do relatório Focus, do BCB.

Já em relação aos investimentos a serem realizados pelas empresas, os gestores preveem uma retomada gradual: para 2016, a expectativa, segundo a mediana das projeções – medida de tendência central, que elimina respostas extremas –, é de expansão de 4% ante 2015; já o percentual de alta esperado para 2017 passa para 5%.

“É importante percebermos que está havendo uma inflexão clara nas expectativas daqueles que administram empresas no País. Como vivenciamos uma retração em todos os segmentos econômicos nos últimos dois anos, estimar um avanço de 8,3% nas receitas líquidas para 2017 é uma real demonstração de otimismo”, afirma Othon Almeida, sócio-líder da área de Market Development da Deloitte. “Por outro lado, as projeções mostram que a retomada dos investimentos será gradual, o que é natural nessa fase de transição econômica, e também muito positivo, desde que reflita decisões alinhadas com as novas oportunidades do ambiente econômico”, avalia o executivo.

Entre todas as empresas participantes, 38% estimam que suas receitas líquidas devem crescer mais de 10% em 2016. Já para o próximo ano, 56% das companhias que participaram do estudo preveem crescimento de receitas nessa ordem. Enquanto 26% projetam queda nas receitas neste ano, apenas 6% dos respondentes estimam queda em 2017.

A análise dos dados do estudo Agenda 2017 aponta que o otimismo é motivado por vários fatores, entre eles, a melhora na expectativa em relação à possível retomada dos investimentos na área de infraestrutura. Há ainda influência da melhora da confiança do setor empresarial numa recuperação da atividade econômica brasileira, além de avanços importantes nas projeções de crescimento de setores que foram muito afetados pela atual crise, como o de construção civil.

Entre os itens que mais devem causar impacto nos negócios, os executivos citaram como principais: variação do câmbio, retomada da economia e alterações no preço do petróleo.

Emprego ganha fôlego

Mais de um quarto (26%) das empresas participantes pretendem aumentar seu quadro funcional em 2017. A maioria (58%) acredita que suas organizações manterão o mesmo contingente de empregados no ano que vem, enquanto que 16% delas avaliam que terão de reduzir o número de colaboradores.

Das empresas que pretendem manter ou contratar funcionários, 43% admitem intenção de procurar profissionais mais qualificados. “Essa visão aponta para a necessidade urgente de empresas e pessoas priorizarem a qualificação profissional na pauta de suas preocupações”, explica o sócio da Deloitte.

Em relação aos investimentos em treinamento e qualificação de profissionais, 38% dos entrevistados dizem que suas empresas devem aumentar os investimentos nesta área no ano que vem. Outros 53% pretendem manter o mesmo patamar de desembolsos deste ano; e apenas 9% estimam reduzir gastos nesse setor.

Regiões mais otimistas

Segundo os dados apurados, as empresas da região Centro-Oeste preveem melhores resultados, pois, além de projetarem crescimento de receitas líquidas de 10% em 2016, estimam aumentar em 10% os valores dos investimentos para o próximo ano.

A região Nordeste também se destaca, prevendo avanço nas receitas de 6% em 2016, e de 10% para o ano que vem. Os investimentos pelas empresas nordestinas também ultrapassam a média nacional, ficando em 5% para 2016 e em 10% para o período seguinte.

Análise por setores

No recorte por segmento, os que têm as projeções mais otimistas são os setores de serviços financeiros, de tecnologia e de saúde e farmacêuticos. Os três estimam crescimento das receitas líquidas de 10%, tanto neste ano, quanto em 2017. Em relação aos investimentos, o setor de serviços financeiros projeta aumento de 10%, tanto neste, quanto no próximo ano. Já o setor de serviços de tecnologia prevê desembolsos 5% maiores em 2016, e 10% mais altos no ano que vem; enquanto o de serviços de saúde e farmacêuticos prevê investir 9% mais em 2016, e 10% em 2017.

No outro extremo, estão as expectativas menos otimistas, mas que indicam uma retomada das vendas. O setor de construção civil, que prevê recuo nas receitas líquidas de 10% em 2016, espera resultados melhores no ano que vem, com expansão de 5%. Quanto aos investimentos previstos, a expectativa é encerrar 2016 nos mesmos patamares de 2015, e aumentar em 5% no ano de 2017, em relação a 2016. Já o setor de veículos e autopeças, que não prevê crescimento de receita para 2016, estima um aumento de 9% no próximo ano. 

Prioridades para investir

Entre as empresas que estão propensas a investir em 2017, algumas alternativas aparecem como prioritárias. O lançamento de novos produtos ou serviços foi o objetivo mais citado (com 48%) pelos entrevistados; seguido por substituição de máquinas e equipamentos (40%). A ampliação de pontos de venda foi citada por 17% dos respondentes, seguida por ampliação do parque fabril (14%). A aquisição de empresas (13%); a participação em licitações ou privatizações (9%); e a abertura de novas unidades (6%) também aparecem como destino de investimentos. Os itens aquisição de produtos ou marcas de outras empresas e participação em concessões públicas aparecem com 5% das citações, cada.

“Um dado interessante da pesquisa é o que mostra que 40% dos entrevistados afirmam que suas empresas investirão na substituição de máquinas e equipamentos. Isso é resultado de um longo período de contenções, em que as companhias aplicaram seus recursos na melhoria da gestão operacional, com o objetivo de garantir sustentabilidade em um momento de instabilidade econômica”, diz Othon Almeida.

Em relação a setores e geografias, as empresas de infraestrutura priorizarão as regiões Norte e Nordeste para a abertura de novas unidades, enquanto instituições financeiras focarão o Centro-Oeste. Das empresas paulistas, 21% abrirão unidades no Nordeste, enquanto 67% das organizações do Centro-Oeste expandirão negócios em São Paulo.

A aquisição de empresas ou de produtos e marcas também está no radar entre os investimentos previstos para serem feitos pelas companhias, já que 16% destacaram essa opção para 2017. Destas, 33% não pretendem se capitalizar, outras 22% utilizarão empréstimos com bancos de varejo e 20%, empréstimos com bancos de fomento.

No recorte por setor, vale destacar que o de bens de consumo e produtos citou com mais ênfase investimentos com foco na abertura de novas unidades (74%) e ampliação de fábricas (66%). Os fatores de estímulo para a realização de investimentos em 2017 são oportunidades relacionadas ao negócio da empresa (66%) e à expectativa de retomada da atividade econômica brasileira (62%).

Setores prioritários: infraestrutura em destaque

Com a esperada retomada da atividade econômica no próximo ano, os setores ligados à área de infraestrutura são apontados como aqueles que poderão receber o maior volume de investimentos em 2017. Para os entrevistados, que tinham a opção de escolher cinco segmentos econômicos que deverão receber mais investimento em 2017, os aportes em rodovias (38%), geração de energia elétrica (35%) e portos (33%) são os que mais devem receber investimentos.

“Um dos fatores que pode estar levando os gestores a esta percepção é o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), lançado pelo Governo Federal em setembro de 2016, e que prevê uma série de privatizações e concessões de ativos públicos, como rodovias e aeroportos, a partir do ano que vem”, afirma Othon Almeida. Das empresas que pretendem participar de licitações, privatizações ou concessões públicas em 2017, 37% são de infraestrutura.

área de educação e formação técnica recebeu 30% das citações como potencial alvo de investimentos no próximo ano. A seguir, aparecem obras urbanas (29%); transmissão e distribuição de energia (26%); saúde e saneamento (26%); aeroportos (22%); habitação e moradia (21%); telecomunicações (21%); siderurgia e metalurgia (20%); exploração de petróleo e gás (19%); ferrovias (19%); segurança (18%); exploração de minerais (14%); e hidrovias (5%).

Ainda de acordo com a percepção dos respondentes, os investimentos em rodovias, siderurgias e metalurgia e a exploração de petróleo e gás são os três que terão um impacto mais alto sobre os negócios das empresas neste ano e em 2017.

“Essa percepção das empresas é positiva, já que a área de infraestrutura é grande geradora de postos de trabalho e mobilizadora de vultosos recursos. Assim, podemos imaginar boas perspectivas e uma mudança importante de cenário em relação à geração de emprego e renda”, avalia Othon Almeida.

Representando 14% de todas as empresas participantes, o setor de infraestrutura está entre os mais otimistas, estimando crescimento de receitas líquidas de 10%, e aumento de investimentos também na casa dos 10% para o ano que vem, de acordo com a mediana das opiniões apuradas pelo estudo.

Também o setor da construção civil, apesar de ser um dos mais afetados pela atual crise (com previsão de queda de 10% nas receitas líquidas de 2016, na mediana das respostas), prevê uma reversão de tendência para 2017, esperando alta de 5% para suas receitas e também para seus investimentos no ano que vem.

Desafios na captação de recursos

Mesmo diante de uma expectativa relativamente positiva para o mercado, 50% dos entrevistados disseram que suas empresas não irão se capitalizar em 2017. A maioria delas é de pequeno porte (74% são empresas que estimam receita líquida menor que R$ 500 milhões em 2016).

Entre aquelas que pretendem ir ao mercado para obter capital, 18% estimam recorrer a empréstimos em bancos de fomento; 16% devem buscar financiamentos em bancos de varejo; 14% devem contar com aportes dos proprietários ou sócios; 12% esperam aportes dos grupos controladores; 7% aguardam aportes de fundos de investimento; e 5% devem emitir títulos de dívida.

Após anos com pouquíssimas operações de abertura de capital (IPO, da sigla em inglês “Initial Public Offering”) de empresas na Bolsa de Valores brasileira, 1% das 746 empresas participantes indica que pretende lançar mão dessa opção de capitalização em 2017 – dessas, quase todas estimam receita líquida superior a R$ 1 bilhão para este ano.

Com previsão de retomada da economia em 2017, as empresas participantes esperam, na sua maior parte, um cenário mais favorável para captação de recursos com menor custo. “Por outro lado, a captação por meio de recursos próprios, característica nas empresas de menor porte, aparece como importante elemento em 2017”, diz o sócio da Deloitte.

Foco na gestão

Estimulados a escolher cinco prioridades para 2017, entre 15 opções de práticas destinadas à boa administração corporativa, os entrevistados do estudo apontaram como foco três itens bastante lógicos em um contexto proveniente de dois anos seguidos de crise: gestão financeira (com 65% de citações); de processos (61%); e orçamentária (55%). A pesquisa apurou também que as empresas brasileiras demonstram intenção de priorizar a adoção de melhores práticas de governança corporativa. Os itens mais abordados nesse âmbito são: gestão de riscos e controles internos (37%), gestão de compliance (33%) e estrutura de governança corporativa (31%).

As outras práticas citadas foram gestão de tecnologia da informação (36%); gestão de marketing e comunicação (34%); auditoria externa (16%); auditoria interna (14%); gestão ambiental (14%); gestão de crises (13%); responsabilidade social (12%); mecanismos de transparência (7%); e conselho fiscal (6%).

Boa parte das empresas que participaram da pesquisa não implantou ainda importantes estruturas de governança corporativa, como áreas de gestão de crise ou conselhos fiscais, por exemplo. Em fase inicial de implantação, a área de auditoria interna foi lembrada no levantamento. Com nível um pouco mais avançado de inserção, as empresas citam os mecanismos de transparência, de gestão de compliance e de riscos, os controles internos e as estruturas de governança corporativa. A adoção de auditoria externa é também citada como prioridade pelas empresas.

“É bastante compreensível que, nessa fase de transição, as empresas mantenham foco no aprimoramento das práticas administrativas. Porém, mesmo em um momento como o atual, as organizações não devem descuidar da eficiência nos controles sobre a gestão”, explica Othon Almeida.

Desafios disruptivos

Entre os recortes da pesquisa, é possível perceber também que os gestores brasileiros ainda têm um bom caminho a percorrer para inserir suas organizações no processo de adoção das novas tecnologias e tendências que marcam as mudanças disruptivas no campo dos negócios.

Entre 12 frentes tecnológicas sugeridas, os participantes foram convidados a escolher três opções que serão prioritárias em suas empresas no próximo ano. A prática de Analytics surge no topo das indicações, com 36% de citações, seguida pela Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês, “Internet of Things”, com 29%). A segurança cibernética surge na terceira posição (22%); acompanhada por Indústria 4.0 (13%); saúde digital (12%); plataformas autônomas (12%); tecnologias exponenciais (7%); realidade virtual e aumentada (6%); impressão 3D (7%); smart cities (5%); bitcoins (2%); e blockchain (2%).

É interessante notar que 61% dos respondentes não têm ideia do que seja blockchain (sistema de registros que garante a segurança e integridade das operações financeiras realizadas sem a necessidade de uma autoridade central; seu uso mais conhecido são as moedas digitais); 40% dos participantes disseram desconhecer completamente o que é Indústria 4.0 (conceito que representa a tendência da nova manufatura integrada, com as tecnologias disruptivas unindo máquinas, sistemas e pessoas; é considerada uma “nova revolução industrial”); 36% nunca ouviram falar em tecnologias exponenciais (pelas quais, segundo a chamada “Lei de Moore”, estimam o avanço exponencialmente rápido dos processadores); e 33% dos respondentes apenas ouviram falar sobre o conceito de smart cities, ou cidades inteligentes, conectadas por redes que otimizam a gestão de seus recursos e serviços.

Outras importantes frentes tecnológicas também foram citadas como pouco ou moderadamente conhecidas: impressão 3D (48%); internet das coisas (IoT, 47%); cyber security (44%); bitcoins e realidade virtual aumentada (38%); e analytics e plataformas autônomas (37%).

“As empresas que desenvolvem tecnologias e abordagens disruptivas têm grande potencial de negócios no Brasil, já que há muito espaço para penetração no mercado”, indica Othon Almeida. “Por outro lado, as empresas em geral precisam planejar seriamente como conhecer melhor, investir e incorporar essas novas tecnologias a seus processos, o que pode significar a sobrevivência, ou não, dos negócios”, conclui.