Exportações em alta no mercado de fundição

Exportações em alta no mercado de fundição

04.10.2017

Fechar o ano com produção de 2,315 milhões de toneladas de peças fundidas e faturamento de US$ 7,5 bilhões. O que seria apenas uma projeção no ano passado vai, sim, se tornar realidade em 2017. Mais do que uma constatação, os números apresentados em São Paulo, entre os dias 26 e 29 de setembro, durante a Feira Latino-Americana de Fundição (FENAF) e o Congresso Abifa de Fundição (CONAF), ambos promovidos pela Associação Brasileira de Fundição (ABIFA), deixaram os empresários do setor muito animados e, principalmente, otimistas com a expectativa de que 2018 será ainda melhor do que a atual temporada.

De acordo com Afonso Gonzaga, presidente da ABIFA, o objetivo é crescer de 12% a 15% no ano que vem. Neste ano o índice deve ficar em 10%. “Internamente, vamos ampliar nossos negócios com o mercado automotivo (responde por 60% da produção), mas também apostamos na retomada da agroindústria, mineração, medicina (através de próteses de microfusões), e na fabricação de utensílios domésticos, onde as peças fundidas se fazem muito presentes”, argumenta. Outra meta traçada é atingir a produção recorde de 3,5 milhões de toneladas de fundidos, estabelecida em 2008, no biênio 2020/2021. Bons motivos para acreditar nisso não faltam. A indústria, como as estatísticas apontam, está retomando o seu curso de crescimento e o mercado externo enxerga o Brasil com um fornecedor em potencial.

O primeiro bom indício do interesse dos estrangeiros pelos fundidos brasileiros foi a presença de compradores dos Estados Unidos, Alemanha, Chile e México, capitaneados pela APEX-Brasil, na FENAF, que vieram para conhecer e buscar oportunidades com um grupo de 20 fundições nacionais. A estimativa é que das reuniões realizadas possam surgir, entre seis meses e três anos, negócios da ordem de US$ 20 milhões. “Esses compradores não conheciam o produto brasileiro, mas estão muito interessados em fazer negócios. Hoje, eles já compram da Ásia e do Oriente Médio, mas querem diversificar os mercados e aí o Brasil torna-se um importante player. As nossas peças fundidas têm muita qualidade e não devem em nada para o que encontramos no exterior”, diz Wagner Paes, gestor de Projetos Especiais da APEX-Brasil. 

No grupo dos compradores que visitou a FENAF estavam agentes de negócios associados à Global Alliance Automotive (GAA), organização que reúne profissionais consultores do mundo todo que geram, anualmente, US$ 2,2 bilhões de negócios em várias frentes, entre elas, a de fundição. Os estrangeiros, de acordo com Guilherme Bonatto, sócio-diretor da Belluno LLC, empresa brasileira instalada em New Hampshire, Estados Unidos, e que atuou diretamente na vinda das comitivas à feira, saíram do Brasil com uma ótima impressão da capacidade e da qualidade da fundição nacional. “O crescimento de 7% do setor no primeiro semestre, mais as condições macroeconômicas que estamos vivendo, apontam que o Brasil está pronto para aumentar as exportações. E a GAA quer participar desse processo, promovendo negócios com os brasileiros”, argumenta. Ele, porém, revela: “Mas é preciso levar em consideração que não pode ser uma movimentação de curta duração. O empresário brasileiro tem que ter o compromisso de atender, independentemente das turbulências econômicas, uma parcela da sua capacidade para sustentação desse negócio com os estrangeiros”, observa. 

Interesse do outro lado do mundo – Além da visita de compradores americanos, alemães, chilenos e mexicanos, os chineses, maiores produtores mundiais de peças fundidas (45,6 milhões de toneladas anuais), voltaram, depois de um hiato de três anos, a fazer cotações com empresas brasileiras. “A China sempre vendeu para o Brasil. Agora, o interesse daquele país pelos fundidos brasileiros nos deixa muito animados. Estamos recebendo compradores que não conheciam o potencial do fundido brasileiro. E o que me deixa eufórico é que eles não estão interessados apenas na produção de ferro, mas também no aço e alumínio, além de outros metais”, afirma Gonzaga. 
 
Especialmente sobre o interesse chinês, o presidente da ABIFA vê com bons olhos. “Esse início de cotação é um novo momento em que a China nos enxerga. As fundições chinesas estão sufocadas em respeitar as necessidades ambientais. Na paridade, com a ajuda do governo em reduzir a nossa carga tributária e diminuir a burocracia, e se tivermos competência de realmente privilegiar a indústria, nós estaremos disputando em igualdade de condições com os chineses no cenário internacional em pouco tempo. Sempre enxerguei a China como uma grande oportunidade e não como uma ameaça, desde que sejam criados mecanismos para que tenhamos condições de disputar mercado”, revela Gonzaga. 
 
Com o interesse dos estrangeiros sobre as peças fundidas do Brasil, a ABIFA já projeta um crescimento nas exportações em 2018. Hoje, 20% do que é produzido no Brasil vai para o mercado externo, principalmente Estados Unidos (42,5%) e países da América do Sul (19,3%). Para o ano que vem, Afonso Gonzaga projeta um volume de negócios que possa atingir de 28% a 30% da produção nacional. No faturamento de US$ 7,5 bilhões estimado para este ano, US$ 1,5 bilhão provém das vendas para fora do país. 
 
O Brasil tem capacidade de produzir, anualmente, 4 milhões de toneladas. Se mantida a produção estimada de 2,3 milhões neste ano, o país se manteria no ranking dos dez maiores mercados de fundição do mundo, que é encabeçado pela China (45,6 milhões de toneladas), seguido pela Índia (10,77 milhões), Estados Unidos (10,39 milhões), Japão (5,4 milhões), Alemanha (5,31 milhões), Rússia (4,2 milhões), Coréia (2,62 milhões) e México (2,56 milhões).
 
De acordo com a ABIFA, o Brasil tem 1.167 empresas de fundição, que empregam cerca de 50 mil pessoas, 40% delas atuando com a fundição de ferro, 21% alumínio e 14%, com aço. Outras 25% das companhias trabalham com metais não ferrosos, cobre, zinco e magnésio. Juntas, elas foram responsáveis por gerar uma receita de perto deUS$ 6,9 bilhões em 2015, número que se repetiu no ano passado. 
 
Feira de 2019 deve reunir BRICS – Durante a FENAF e CONAF, a ABIFA promoveu o lançamento da 18ª edição de ambos os eventos. O próximo encontro ocorrerá no mesmo Expo Center Norte, em 2019, com uma novidade. O CONAF deverá abrigar o Congresso BRICS, que reunirá executivos e compradores da Rússia, Índia, China e África do Sul. Dentro de dois anos também, a ABIFA estará comemorando o Jubileu de Ouro.