Juros civilizados, câmbio competitivo e ajuste fiscal: condições absolutamente necessárias para a retomada do crescimento

Juros civilizados, câmbio competitivo e ajuste fiscal: condições absolutamente necessárias para a retomada do crescimento

11.10.2016

Foi a principal conclusão a que chegaram acadêmicos, autoridades e representantes da indústria de máquinas e equipamentos, que debateram os grandes desafios e as medidas necessárias para reverter o atual panorama de queda da produção e emprego no país no 2º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos, realizado pela ABIMAQ, com o tema A Retomada do Crescimento, em setembro, na sede da entidade.

Na abertura do evento, o presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, João Carlos Marchesan, analisou a indústria nacional de máquinas e equipamentos dentro do contexto da economia brasileira. “A crise no setor de bens de capital é grave! Estamos com uma queda de quase 50% em nosso faturamento, quando comparado com 2013. Se olharmos apenas para o mercado interno, esta queda atinge 60% das nossas receitas no mesmo período”.

Em seu pronunciamento, Marchesan afirmou que tem sugerido com urgência ao governo a criação de uma política de sobrevivência para que o segmento possa fazer a travessia até a retomada do crescimento. “Essa política deve ser baseada em uma pauta emergencial e outra de competitividade”.

“Na realidade – concluiu Marchesan -  o 2º Congresso deve contribuir para indicar soluções e caminhos para que o país recupere não somente as contas públicas, mas simultaneamente, iniciar um ciclo de reconstrução e de reindustrialização que assegure um crescimento sustentado, com geração de empregos e renda, para recuperar o tempo e a esperança perdidos.l

PORQUE O BRASIL INVESTE POUCO? 

Delfim Netto, economista e ex-ministro da Fazenda

Após a abertura, o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto abordou o tema Por que o Brasil investe pouco? Dificuldades e alternativas, destacando que o desenvolvimento econômico depende basicamente da quantidade de capital de que dispõe cada trabalhador. No entanto, demonstrou que nos últimos anos houve uma forte queda nos níveis de investimentos em função de fatores como carga tributária, câmbio, e outros aspectos que, analisados conjuntamente, podem explicar o atual impasse da economia nacional. "O importante é compreender que produzir é um problema técnico; distribuir o produto é um problema político. E é aí que nós vamos entender o que está acontecendo", resumiu Delfim Netto. Em suas conclusões, o eminente economista apontou as medidas necessárias – em sua opinião – para fazer o Brasil voltar a crescer, assim como colocá-las em prática, as quais estão listadas na tabela abaixo.

Como aumentar o investimento

I.  O poder Executivo tem de assumir o seu protagonismo e sugerir ao Congresso as mudanças estruturais necessárias:

a. Enfrentar o problema do controle dos gastos públicos (PEC 241).

b. Enfrentar o problema do controle da Previdência (idade mínima).

c. Enfrentar o problema das vinculações do gasto.

d. Enfrentar o problema das indexações ao salário mínimo.

e. Enfrentar o problema da livre negociação entre trabalhadores e empresários, sob o controle dos sindicatos, para preterir a lei.

f. Insistir na reforma do ICMS e na simplificação do PIS/Cofins.

g. Preservar os programas de inclusão social bem focados e com condicionalidades adequadas, controlando o seu “parasitismo”.

h. Orçamento de base zero: avaliação cuidadosa de todos os programas governamentais.

 

II. Crescimento e credibilidade são dois lados da mesma moeda: não há ajuste fiscal sem crescimento.

III. Recuperar o investimento em infraestrutura e logística com leilões bem feitos.

 IV. Abertura comercial:

a. Apoio às exportações.

b. As importações são um fator de produção e tendem a aumentar as oportunidades de absorção e desenvolvimento tecnológico.

Ao final, Delfim Netto disse que todas essas explicações e reminicências históricas são extremamente importantes, mas que no fundo enquanto o retorno sobre o capital for menor que o custo do capital, o país não retoma o crescimento, porque a indústria, que é grande gerador de empregos de qualidade, não consegue evoluir”.

“A política monetária dos Estados Unidos e da Alemanha são independentes, a nossa, não. As grandes potências exercem uma pressão assimétrica sobre os outros países e, quando um país entrega a sua política monetária, ou seja, sua capacidade de estabelecer a sua taxa de juros tendo uma política fiscal adequada, ele está entregando seu futuro. Em minha opinião, câmbio não é tudo, mas é quase tudo.”

Delfim Netto, economista

PARTICIPAÇÃO

O deputado federal Jerônimo Goergen, presidente da Frente Parlamentar da Indústria de Máquinas e Equipamentos (FPMAQ), falou sobre as ações que vêm sendo desenvolvidas no Congresso Nacional, destinadas a promover a recuperação do setor de bens de capital e do país, desde acompanhamento de medidas provisórias, projetos de lei e apoio a medidas que favorecem o setor. “Podem contar com a ajuda da FPMAQ para promover as mudanças necessárias para que o país encontre o rumo do progresso e do desenvolvimento”. 

Palestra

ESPERANÇA, CONFIANÇA, ORDEM E PROGRESSO  

Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil

O ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República, Eliseu Padilha, fez uma detalhada exposição da situação da economia e das medidas que o governo federal pretende propor ao Congresso Nacional com o objetivo de reverter a preocupante tendência de intensa recessão observada nos últimos anos. À sua exposição de dados e possíveis soluções ele atribuiu um nome com uma forte carga de otimismo: A esperança se convertendo em confiança com ordem e progresso – O Brasil é um mar de oportunidades!

"Seguramente, não existe hoje nenhum segmento que tenha mais interesse e responsabilidade do que os outros na retomada do desenvolvimento econômico do nosso país. E mais ainda: sem a retomada da economia, não haverá solução para nada! Com a retomada, há solução para tudo: resolvem-se os problemas dos municípios, dos estados e da União – eles, porém, terão de controlar as suas contas", afirmou o ministro Padilha, em cuja avaliação, esse grande desafio pode ser segmentado em quatro tópicos: 1) Induzir o crescimento econômico; 2) Manter os atuais empregos e gerar novos; 3) Conter o deficit da União; e 4) Controlar a dívida da União.

Análise

Eliseu Padilha apresentou e explicou uma ampla série de dados e projeções, com destaque para O Novo Retrato do Brasil, que engloba as medidas que o governo pretende implementar, após a aprovação do congresso nacional. Na análise dessas medidas, merecem destaque a garantia dada pelo ministro de que a PEC 241, que estabelece limites para os gastos do governo, será aprovada nas duas Casas do Congresso Nacional ainda este ano. 

Sobre a polêmica limitação das despesas com a saúde e a educação, afirmou que, na realidade, no caso de uma realocação de recursos para cobrir eventuais necessidades para outras despesas, elas não serão afetadas. "Elas serão exceções, não para crescer acima do teto – determinado pela despesa do ano anterior corrigida pela inflação –, mas para que, dentro do teto, elas sempre cresçam, no mínimo, a inflação do ano anterior. Se, por exemplo, for eventualmente necessário cobrir um deficit da previdência, ele deverá ser coberto com recursos realocados de outras despesas – menos da saúde e da educação", garantiu o ministro. "Até porque não existe processo de desenvolvimento que se sustente sem cidadãos desenvolvidos. E o conhecimento é que efetivamente dá sustentabilidade ao desenvolvimento."

A respeito da também polêmica reforma na Previdência, o ministro Eliseu Padilha, adiantou que as novas regras que o governo pretende criar serão iguais para todos os brasileiros. "Todos os brasileiros são iguais perante a lei. Poderá até existir um sistema para o setor público e outro para o privado, mas as regras serão as mesmas. Nós vamos ter uma idade mínima – em princípio, 65 anos. Vale lembrar que, quando o sistema que está em vigor foi criado, a expectativa de vida do brasileiro era de 56 anos, e o índice de natalidade era de cinco filhos por família. Hoje, porém, a expectativa de vida passou para 78 anos, e o número de filhos por família caiu para 1,7, caindo para 1,5. (...) A reforma é, portanto, absolutamente indispensável, mas vai haver um período de transição de mais de 15 anos para os homens e de mais de 20 anos para as mulheres e professores. Depois disso, porém, todos receberão o mesmo tratamento", explicou o ministro.l

O NOVO RETRATO DO BRASIL

(No quarto mês do novo governo)

1. Conquistas do governo Temer: A normalização e a pacificação do país

O Estado só tem uma fonte de recursos: o dinheiro que os cidadãos ganham por si próprios. Se o Estado deseja gastar mais do que recebe em tributos, ele só pode fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou cobrando mais tributos. Quem sempre paga a conta é o cidadão!

2.  Medidas para conter o déficit e controlar a dívida pública da União

a) Corte nos cargos de livre nomeação

b) Corte em pagamentos indevidos: Foco inicial no auxílio doença, benefícios por invalidez, bolsa família, seguro defeso, seguro desemprego

c) Nova meta fiscal – 2017: Realismo e reversão da tendência de crescimento da despesa

d) Conter os gastos públicos:

- Fixação de teto para as despesas: PLOA para 2017

- PEC 241: institui o teto por 20 anos (10 + 10)

e) Reforma da Previdência: Reformar para garantir a aposentadoria

- Deficit

- 2015: R$ 86 bilhões

- 2016: R$ 146 bilhões (prev.)

- 2017: R$ 180 bilhões (prev.)

- Reformar para preservar! Reformar para garantir!

3.  Medidas para induzir o crescimento econômico, manter e gerar empregos:

a) Não aumentar a carga tributária

- OGU: Exec. 2016 e PLOA para 2017 

b) Novo Estatuto da Empresa Pública

- Lei 13.303/2016

c) Novo Estatuto dos Fundos de Pensão

- PLP 268/2016

d) Nova Lei Geral das Agências Reguladoras

- PLS 52/2013 (substitutivo da Sen. Simone Tebet)

e) Reativação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão)

4.  Programa para manutenção e a geração de empregos:

- Especialização: Eliminar insegurança jurídica de empresas e empregados visando aumentar produtividade e salários (PLC 30/2015, antigo PL 4.330/CD, está no Senado Federal); e PL 4302/98 (nos termos do PLC 003/2011, está na Câmara dos Deputados)

- Acordo coletivo com propósito específico: Fortalecer negociação direta empresa – empregados (STF – Recurso Extraordinário 895.759 Pernambuco – Relator: ministro Teori Zavascki; e TST - RR - 1134676-43.2003.5.04.0900 – Relator: ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho)

- Completar o mercado de trabalho: Instituir e fortalecer relações modernas de emprego, facilitando a formalização e o regime de trabalho em tempo parcial (PL 3785/2012 – está na Câmara dos Deputados)

5 – Criação do PPI – Programa de Parcerias de Investimentos (conduzido pelo ministro Moreira Franco)

- Crescer: Estabilidade, transparência e segurança jurídica

- O Brasil é um Mar de Oportunidades – Um mercado de 206 milhões de consumidores

a) Logística: Rodoviária, ferroviária, hidroviária, aeroportuária, portuária

b) Energia: Geração, transmissão, distribuição

c) Óleo e gás

d) Saneamento urbano: Água, resíduos sólidos e coleta e tratamento esgoto

e) Mobilidade urbana

6 – A confiança toma conta dos brasileiros l

PAINEL I 

COMO RETOMAR INVESTIMENTOS 

Na abertura do painel, o jornalista Augusto Nunes – coordenador de todos os painéis do evento – destacou a existência de uma conjunção de crises no Brasil – crise econômica, crise política e crise moral – e que o papel do 2º Congresso da ABIMAQ seria  o de procurar respostas para as perguntas que são feitas pelos diferentes painéis, balizando o caminho que um dos setores mais importantes da economia precisa percorrer para ajudar o Brasil a se livrar de vez de uma das maiores crises da sua história. A necessidade de ajuste fiscal, investimento em tecnologia e juros compatíveis foram alguns dos assuntos abordados no painel.

Gilberto Peralta,

presidente de GE do Brasil

"A GE está estabelecida no Brasil há 95 anos e sempre teve uma visão de futuro.  O Brasil é um mercado muito importante para nossa empresa e isso não é muito difícil de entender, considerando o seu potencial de energia, de recursos naturais e o fato de ser um mercado de 200 milhões de consumidores. A atual instabilidade política pode atrapalhar temporariamente, mas não atrapalha no longo prazo. Em 2014, inauguramos, no Rio de Janeiro, nosso primeiro centro de pesquisas do Hemisfério Sul e o quinto da empresa no mundo, e mais de 50% desse centro está dedicado à tecnologia em óleo e gás. Apesar da crise, a GE não parou de realizar os investimentos planejados no Brasil e uma prova disso é que 120 milhões de dólares foram investidos no Rio de Janeiro, onde está sendo feita a duplicação da nossa linha de revisão de turbinas de aviões, que é basicamente uma operação de exportação. A despeito das dificuldades, achamos que este ano nosso faturamento vai atingir o valor histórico."l

Nelson Marconi,

coordenador executivo do Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas 

“O setor de máquinas é primeiro a ser afetado pelas crises. Entre 2010 e 2013, os investimentos no setor situaram-se entre 7% e 8%, mas acabaram caindo para 5,5% em 2015. Um dos motivos desse nível baixo foi a queda na margem de lucro. Outra variável que influiu no processo foi a taxa de câmbio, que se esteve valorizada desde 2005. Como a margem estreita, a oscilação do câmbio prejudica as exportações e favorece as importações, gerando um saldo negativo na balança comercial da indústria de transformação. A taxa real de juros é outra variável que sempre esteve num patamar alto. Portanto, para retomar os investimentos, é preciso fazer ajustes que interrompam a evolução da relação dívida pública/PIB e preservem os gastos sociais e os investimentos, que solucionem a questão previdenciária, reduzam a taxa de juros e o câmbio num patamar competitivo, bem como fazer programas de concessão de obras de infraestrutura e de estímulo às exportações de manufaturados.”l

Paulo Rabello de Castro,

presidente do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

"O Brasil padece de uma doença grave, porém, curável: quando nós curarmos o 'rentismo' brasileiro, vamos curar o Brasil. No Brasil, é muito arriscado e desaconselhável produzir; o recomendado é disputar renda. E o governo é a maior máquina extratora de renda que nós conhecemos. Portanto, nós somos um país especializado em brigar por renda sem ter produzido nada! A dívida pública acumulada por conta de uma taxa Selic cronicamente elevada equivale a 1 trilhão de reais, ou seja, 25% dos 4 trilhões da dívida pública atual. Está ficando cada vez menos dinheiro retido – o chamado Ebitda – nas mãos das empresas brasileiras. Não há como recuperar o Brasil se os empresários não lucrarem, se eles não tiverem um retorno adequado, com juros compatíveis com suas atividades. O governo precisa adotar reformas que evitem que a dívida pública chegue a 90% do PIB em 2021, o que condenaria o setor de máquinas a ficar estrangulado, pelo menos, nos próximo três ou quatro anos."l

PAINEL II 

COMO TORNAR A EXPORTAÇÃO UMA OPÇÃO ESTRATÉGICA

Há um consenso que apostar na exportação é a alternativa para tornar as empresas brasileiras mais competitivas, porém é necessário investir na capacitação empresarial e saber enfrentar as burocracias. 

Tiago Terra,

supervisor de Competitividade da Apex-Brasil

“A Apex não é uma agência do governo, mas esteve ao governo por meio de um contrato de gestão com o MDCI, que recentemente foi repassado ao MRE. Essa mudança foi muito positiva, porque vai nos propiciar uma grande capilaridade. Hoje, nós temos dez escritórios espalhados pelo mundo e isso poderá ser multiplicado pelas Secoms-Setores de Promoção Comercial instaladas nas embaixadas, criando uma rede maior de relacionamentos que beneficiará as empresas. A Apex fez parte do grupo que elaborou o Plano Nacional de Exportações. Nós construímos toda a parte da inteligência para ajudar as empresas a reconhecer os seus melhores mercados, separados em complexos produtivos. Ser comércio exterior não é só querer – tem que ser! Hoje o mundo exige isso e eu acredito que o setor de máquinas, mais ainda. O mundo está globalizado e as ideias e informações estão cada vez mais fáceis de ser localizadas. Se estamos lá fora frente aos nossos concorrentes, precisamos ter acesso às inovações para poder ampliar nossa competitividade.”l

Gino Paulucci Jr.,

presidente da Polimáquinas 

“O Brasil não é um aprendiz de última hora no comércio exterior; trabalha nisso há muito tempo. Mesmo quem produz para o mercado interno, se passar a exportar, vai ter mais escala. Quando se pensa em exportar, verifica-se que a tecnologia pode ser suficiente para o Brasil, mas não é suficiente para competir no mercado externo.  Eu já ouvi uma frase que dizia que, ‘se você está sofrendo com o mercado interno, exportar pode ser uma boa alternativa’. Isso vale para uma série de produtos, mas não vale para máquinas, porque elas exigem uma boa assistência técnica e um período de garantia. Exportar máquinas é, portanto, mais complexo. Quem exporta tem sentido menos a redução do mercado interno, porque a exportação funciona como um amortecedor da crise. Mas é preciso saber se o produto tem aceitação no exterior ou precisa ser adaptado. Exportar, porém, implica enfrentar dificuldades específicas, como a flutuação do câmbio e uma complexa burocracia, não só para exportar, mas para enviar peças de reposição.”l

Diego Coelho,

professor de Relações Internacionais da ESPM e Consultor da FIA/USP

“Quando se fala de desenvolvimento, o motor no longo prazo é a produtividade. E um dos fatores que promovem a produtividade no país é a competitividade nacional, um tema muito caro para o setor industrial. Para melhorar a competitividade, não podemos olhar somente o aspecto macroeconômico; existe uma questão microeconômica fundamental. Principalmente no que se refere à exportação, existem questões pertinentes à firma, como a escala de produção, capacitação e inovação tecnológica, e recursos humanos.  O desafio é entender por que algumas empresas conseguem exportar e outras, não. Aquelas que querem exportar precisam superar algumas barreiras e a Apex-Brasil, assim como a ABIMAQ, são extremamente importantes nesse processo de mudança de mentalidade. Nós precisamos chegar ao nível em que a exportação não seja uma opção estratégica, mas um componente da estratégia da empresa. Quando falamos de comércio exterior, precisamos falar de capacitação empresarial, de inteligência de mercado e de inovação tecnológica.”l

PAINEL III 

O PESO DOS ENCARGOS  SOBRE A FOLHA DE SALÁRIOS

Repensar o sistema jurídico trabalhista e a forma das relações de trabalho foi a principal conclusão dos participantes do painel.

Estevão Mallet, advogado da Mallet Advogados e professor associado da Faculdade de Direito da USP

“Eu proponho definir como encargo aquilo que sai do empregador, mas não chega diretamente ao bolso do empregado. Adotado no Brasil, esse modelo tem como características as contribuições ao INSS e ao FGTS, que têm como base de cálculo a folha de salários, mas não levam em conta o faturamento. Na contratação de serviços, tributa-se mais a PF do que a PJ. Isso gera um desestímulo à formalização dos contratos de trabalho e, por outro lado, um estímulo à utilização da PJ como forma de escapar à incidência de certas contribuições.  O problema é que tudo vai bem enquanto a relação de prestação de serviços se mantém, mas, quando ela termina, um dos lados dessa relação desaparece. A consequência é que, mesmo tendo se beneficiado desse sistema, o contratado passa a exigir ser reconhecido como empregado. Portanto, é preciso repensar o sistema de custeio de certas necessidades, para não gerar um cenário perverso, o qual, num momento, leva ao descumprimento da lei e, noutro, sanciona esse mesmo descumprimento.”l

Hilton José da Veiga Faria, diretor de RH da WEG 

“No ano passado, o que nos ajudou muito foram as exportações, com 57% do nosso faturamento, e um novo negócio, a energia eólica.  Já fizemos um ajuste no número de trabalhadores, reduzindo de quase 32 mil para 29 mil em todo o mundo, dos quais, quase 22 mil estão no Brasil. Nós já reduzimos em 9% a jornada de trabalho e em 6% os salários. Nós estamos adotando essas medidas para manter nossa equipe. Tanto os encargos trabalhistas quanto os salários são significativamente mais altos no Brasil, em comparação com as filiais da WEG, com exceção dos encargos de Portugal, que superam os do Brasil. Outro aspecto que nos preocupa é que o nosso escritório no Brasil tem o maior número de advogados trabalhistas e nossa empresa negocia 19 acordos sindicais no Brasil, e todos esses acordos são anuais. No entanto, fora do Brasil, os acordos valem por três ou quatro anos. Portanto, nós precisamos, trabalhar pela modernização das relações trabalhistas no Brasil.”l

Almir Pazzianotto Pinto, advogado e ex-ministro do Trabalho

“Nós precisamos repensar o sistema jurídico trabalhista, cujo núcleo é a CLT, aprovada em 1943, quando o transporte era feito com tróleis, charretes e locomotivas a lenha. Hoje, nós vivemos num mundo cuja economia se baseia em três fatores: globalização, automação e terceirização. A indústria moderna tende à descentralização, que adotou o nome de terceirização. A legislação trabalhista brasileira não consegue se adaptar ao mundo atual sobretudo porque definições essenciais, como de empregador e empregado, estão erradas, e o contrato realidade é um estímulo às má-fé. Entre 1941 e 2015, acumularam-se quase 85 milhões de processos trabalhistas, e o resíduo a ser julgado é de mais de 3,6 milhões – isto é uma aberração! A economia gira em torno das relações de trabalho e o Brasil não pode ter essa carga  imperdoável de processos. O nome deste painel é ‘o peso dos encargos sobre a folha de salários’, mas esse peso nem o mais renomado escritório de advocacia do país consegue calcular. L

Pablo Fava, gerente executivo de Automação Industrial da Siemens

“Já é óbvio para todos nós que a digitalização está mudando o mundo, e nós temos de nos adaptar, porque a partir dela é que vamos obter ganhos de eficiência e de produtividade. O cliente vai nos falar: ‘Eu quero exatamente este produto’. E nós vamos ter de oferecer essa nova máquina ao cliente, e muito antes do que os nossos concorrentes. Nossas linhas de produção precisarão ser adaptáveis à indústria para poder chegar mais rápido ao nosso cliente com um produto customizado. Qualidade não se discute; eficiência é o que nós sempre procuramos na indústria. Na Siemens, nós estamos atuando na cadeia de valor completo da indústria, desde que a indústria desenha o seu produto, passando pelo planejamento da produção, a engenharia de produção, a execução da produção e os serviços. E para cada uma dessas fases produtivas, nós criamos um ‘gêmeo virtual’, que nos permite elaborar produtos sem prototipagem. Desde que seja possível simular um fenômeno físico por uma forma matemática, nós podemos simulá-lo de forma virtual.”l

Fábio Martins Fernandes, especialista em i4.0 da Bosch Rexroth

"Em 1995, havia 40 milhões de pessoas conectadas e, em 1997, 6 milhões de computadores conectados na internet. Estima-se que, em 2020, haja 7 bilhões de pessoas e 50 bilhões de 'coisas' conectadas – estamos falando da conexão entre edifícios, indústrias, energia, equipamentos etc., portanto, esse conceito é de ‘coisa’. Mas não podemos esquecer que, nesse novo 'ecossistema', o ser humano ainda persiste. Toda essa conexão está gerando um item com um valor tão ou mais importante do que o próprio produto final de uma empresa, que são os dados, as informações – essa informação é a essência da Indústria 4.0. Em outros países, esse processo já está avançado, mas no Brasil nós temos ainda que desenvolver fornecedores, adotar a tecnologia 4.0, desenvolver tecnologia, melhorar a infraestrutura, gerar uma regulamentação, melhorar a educação, os recursos humanos e as relações institucionais."l

Paulo Roberto dos Santos, gerente regional de Produtos da Festo

“Nós passamos a ter interação no chão de fábrica, máquina a máquina, no comércio eletrônico, nas operações em nuvem. Ou seja, uma grande parcela do nosso planejamento e dos serviços de manutenção que oferecemos não estarão mais dentro das nossas quatro paredes, mas passarão a compor um serviço de nuvem, que estará disponível em qualquer lugar do mundo. Essa é uma realidade com a qual vamos ter de aprender a conviver. Esse fluxo de informação vai nos permitir acessar informações que estão nos equipamentos de campo, gerando uma grande massa de dados que, analisados, vão nos trazer tendências e comportamentos, permitindo agir antecipadamente na manutenção, reduzir o uso de energia e aumentar a eficiência. As indústrias nacionais poderiam aproveitar este momento de retomada da atividade para remodelar o seu negócio, já visando à integração da indústria digital. Com isso nós ganharíamos um salto de competitividade até o mesmo patamar dos países mais adiantados, que já estão implementando essa tecnologia.”l

Jorge Mario Campagnolo, coordenador-geral de Serviços Tecnológicos do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) 

"Nós temos que preparar uma estratégia para desenvolver a tecnologia 4.0 no país. A ideia, porém, não é criar uma política de cima para baixo. Então, nós resolvemos criar um grupo de trabalho, com a participação de várias instituições – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e algumas associações, inclusive a ABIMAQ, capitaneadas por dois ministérios, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) e o da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Nesse sentido, nós já organizamos seis seminários – em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Salvador e Recife –, para ouvir especialistas sobre tecnologia, infraestrutura, recursos humanos, cadeias produtivas e regulação, com o objetivo de diagnosticar os desafios e, com base nessas informações, criar uma estratégia de trabalho."l

COMO FINANCIAR OS INVESTIMENTOS NUM CENÁRIO DE  TAXA DE JUROS MAIORES DO QUE O RETORNO DAS EMPRESAS  

Ricardo Luiz de Souza Ramos, diretor do BNDES

O apoio do BNDES à indústria de máquinas e equipamentos foi o escopo da palestra de Ricardo Luiz de Souza Ramos, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na avaliação de Ramos, a indústria de bens de capital tem uma grande importância como motor de inovação tecnológica, mas também pode ter um forte impacto nos custos de produção de outros setores. “Nossa visão é de tentar otimizar as indústrias que têm largas demandas para desenvolver o setor de bens de capital a partir delas, tendo como premissa a competitividade. Nós temos de induzir a competitividade, não só no setor de bens de capital, mas também em todo o sistema industrial”, frisou. 

Além da linha Finame, a linha mais utilizada para financiar a aquisição de máquinas e equipamentos, o diretor do BNDES também apresentou outros produtos menos conhecidos oferecidos pelo banco, como os destinados a financiar a inovação tecnológica ou investimentos em pequenas e médias empresas, a produção pré-embarque, a exportação de máquinas e equipamentos para mercados emergentes, entre outros, detalhando as condições de financiamento e a metodologia de concessão, bem como as ações que o BNDES tem desenvolvido para operacionalizar essas linhas de crédito. “Nossa diretriz básica é dar condições para que ocorram melhorias de produtividade e competitividade nas empresas nacionais”, afirmou Ramos. Após sua exposição, o diretor do BNDES respondeu às perguntas feitas pelos empresários do setor. L

Palestra MAGNA

A CRISE ECONÔMICA E A CRISE POLÍTICA

José Álvaro Moisés, cientista político, jornalista e escritor

"Não há dúvida de que, desde meados da década de 1980, nós estamos numa democracia no Brasil, num processo que vem evoluindo. No entanto, existem questões que dizem respeito à qualidade do nosso regime democrático, problemas que de alguma maneira impactam o conjunto das atividades, inclusive o funcionamento da economia e da sociedade", assim  José Álvaro Moisés, professor titular de Ciência Política da Universidade de São Paulo, abriu a palestra magna do evento, definindo as premissas da atual crise política do país, bem como os possíveis cenários que podem resultar dessa situação .

Natureza da crise 

A primeira questão da natureza da crise é que todos  estamos mergulhados nela. Há uma certa noção de que a crise se concentra  na área da economia. Ela é muito importante nessa área, assim como no funcionamento do sistema político brasileiro, que está parcialmente colapsado, em particular no que se refere à representação da sociedade nas instituições em funcionamento no sistema. Mas a crise não se limita a esses dois aspectos.

A crise é também de valores da sociedade, haja vista a Operação Lava Jato – o fato político mais importante ocorrido nos últimos anos no país –, mas que não surgiu da iniciativa dos partidos ou do governo, nem de setores da sociedade civil, mas de um conjunto de instituições que poderia  ser caracterizado como a consolidação de um sistema de recuperação da integridade no Brasil, a partir da Constituição de 1988. As novidades não vieram do sistema político, mas vieram de uma área que coloca em questão os valores da sociedade. Ou seja, nós temos uma perspectiva ética diante do interesse público, que exigiu a emergência desse sistema de integridade.

A natureza multidimensional da crise chama a atenção para um aspecto extremamente importante, que é a nossa crise de lideranças. Precisamos de lideranças que sejam capazes de projetar estrategicamente, no médio e longo prazo, o que o país pode esperar de si mesmo e o que nós queremos ser.

Cenários possíveis para 2016 a 2018 

Cenário 1 - Em primeiro lugar, não se pode descartar a possibilidade de que ocorra a impugnação da chapa (eleita em 2014) da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer pelo STF-Supremo Tribunal Federal. É um cenário complexo, que não ajuda o esforço que a indústria de máquinas está fazendo para retomar suas atividades – mas que não pode ser totalmente descartado.

Cenário 2 - Como a Operação Lava Jato tem sido muito eficiente e rigorosa, será que nós temos uma total garantia de que, em nenhum momento, ninguém do governo vais ser indiciado?  

Cenário 3  - É a exacerbação dos efeitos da fragmentação partidária. Ou seja, uma certa incapacidade de coordenação do governo diante de sua base de apoio. É uma área sem muita clareza nos seus objetivos políticos programáticos, mas que cobra a sua participação e demanda distribuição de poderes para dar o seu apoio às medidas do governo. Esse não é, portanto, um cenário otimista.

Último cenário - que se pode chamar de ‘exercício da virtude’, requer, não apenas a habilidade do presidente Michel Temer, mas uma mudança de atitude que leve uma parte importante desses deputados que têm uma posição ambígua a se posicionar a favor das propostas que o governo quer fazer e que são fundamentais para criar as condições para retomar a economia, voltar ao crescimento, ter respostas positivas e criar empregos. Para que esses deputados e senadores se posicionem, será necessário que a opinião pública seja coordenada pelo governo de uma forma clara, justificando as mudanças que pretende fazer.