Indústria 4.0 na prática: como a digitalização se consolida no chão de fábrica

24.09.2025
Por Jair Ordenes, engenheiro de aplicações na LAPP
A Indústria 4.0 costuma ser tratada como um conceito futurista, mas sua efetiva transformação acontece no chão de fábrica, onde tecnologia, infraestrutura e pessoas se encontram. A experiência prática com equipes de manutenção e operação revela lições valiosas que ajudam a compreender como a digitalização industrial avança, quais obstáculos ainda se apresentam e por que cada detalhe técnico faz diferença na produtividade e na segurança.
Um dos pontos centrais observados é a importância de uma rede segura e íntegra. Sem uma infraestrutura de comunicação confiável, toda a cadeia de automação fica vulnerável a falhas e interrupções. Boas práticas de instalação e manutenção, desde a fiação até os equipamentos de conexão, tornam-se um pré-requisito básico para que a digitalização se sustente. Estima-se que cerca de 90% das falhas em redes industriais estejam ligadas a problemas de instalação de cabos e conectores, incluindo aterramentos inadequados e conexões mal executadas, um desafio que reflete diretamente a carência de capacitação técnica de muitos profissionais da área.
Outro aprendizado recorrente é a necessidade de selecionar componentes de forma criteriosa. Cabos, conectores e switches não são apenas itens de compra; são elementos decisivos para a performance e a vida útil de uma instalação. Materiais de alta qualidade, conformidade com normas internacionais e resistência a condições extremas são fatores que impactam diretamente a operação. Em ambientes industriais, onde um minuto de parada não planejada pode representar grandes perdas, a escolha correta dos elementos de infraestrutura se converte em um diferencial competitivo.
A evolução tecnológica mais recente também aponta para a adoção crescente da Ethernet APL (Advanced Physical Layer), capaz de responder à demanda por maior capacidade de transmissão de dados. A tecnologia permite comunicação bidirecional em alta velocidade, cobre distâncias de até mil metros e oferece segurança intrínseca para áreas com risco de explosão. Além de simplificar a integração e o comissionamento, a solução prepara as empresas para novos modelos de negócio baseados em dados e para a operação remota em tempo real, especialmente relevante em setores como óleo e gás, mineração e processos químicos.
Essas lições práticas encontram respaldo nos números do mercado global. De acordo com estudo da Grand View Research, o setor de Indústria 4.0 movimentou aproximadamente 146 bilhões de dólares em 2022 e deve alcançar cerca de 627 bilhões até 2030, com crescimento anual próximo de 20%. Tecnologias associadas, como a internet das coisas industrial, têm potencial para gerar até 12,6 trilhões de dólares em impacto econômico global até 2030, segundo dados da McKinsey Global Institute.
Em síntese, a Indústria 4.0 não se concretiza apenas em discursos ou em projeções otimistas de mercado. Ela se materializa na prática, quando detalhes técnicos são tratados com rigor, quando a infraestrutura é planejada de forma estratégica e quando tecnologias de comunicação avançadas são incorporadas de maneira inteligente. A digitalização industrial é um processo em curso, sustentado tanto por investimentos bilionários quanto por decisões técnicas cotidianas. E é justamente nesse encontro entre teoria e prática que a verdadeira transformação ganha consistência.