Biopolímeros: o futuro sustentável dos plásticos
28.10.2025
Juliano Barbosa, professor da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Vivemos cercados por plásticos. Eles estão nas embalagens que usamos diariamente, nas roupas, nos carros, nos eletrodomésticos e até em dispositivos médicos. Essa versatilidade tornou o plástico um dos materiais mais importantes do século XX. No entanto, seu sucesso trouxe um problema crescente: a acumulação de resíduos plásticos no meio ambiente.
Estima-se que mais de 350 milhões de toneladas de plástico sejam produzidas anualmente no mundo, e uma parte significativa disso acaba em aterros ou, pior, nos oceanos. Como a maioria dos plásticos convencionais é derivada do petróleo e não se degrada facilmente, eles podem permanecer no ambiente por séculos, fragmentando-se em microplásticos que contaminam o solo, a água e os alimentos.
A reciclagem é, sem dúvida, uma das principais estratégias para mitigar os impactos ambientais dos plásticos. Ela reduz a necessidade de novas matérias-primas e diminui o volume de resíduos descartados. Existem diferentes tipos de reciclagem — mecânica, química e energética — e cada uma tem seu papel.
Contudo, a reciclagem enfrenta desafios: muitos plásticos são misturados, contaminados ou possuem aditivos que dificultam sua recuperação. Além disso, nem todos os produtos plásticos são economicamente viáveis para reciclar. Assim, embora essencial, a reciclagem sozinha não resolve o problema global do plástico.
É nesse contexto que surgem os biopolímeros, materiais que buscam unir funcionalidade e sustentabilidade. De forma simples, os biopolímeros são plásticos produzidos a partir de fontes renováveis, como amido de milho, cana-de-açúcar, celulose, óleos vegetais e até resíduos agrícolas. Alguns deles também têm a capacidade de se degradar naturalmente após o uso, retornando ao ciclo da natureza sem causar poluição persistente.
Entre os exemplos mais conhecidos estão o PLA (ácido polilático): obtido a partir da fermentação do amido de milho ou da cana-de-açúcar. É utilizado em embalagens, copos descartáveis e até em impressoras 3D; O PHA (polihidroxialcanoatos): produzido por micro-organismos que transformam açúcares e óleos em um polímero biodegradável. Pode ser usado em produtos médicos, cosméticos e filmes agrícolas; E também o PBS (succinato de polibutileno) e PBAT (tereftalato adipato de polibutileno): frequentemente usados em sacolas e embalagens flexíveis biodegradáveis.
A produção dos biopolímeros geralmente começa com matérias-primas vegetais, que passam por processos químicos ou biotecnológicos até se transformarem em plásticos. Por serem provenientes de recursos renováveis, contribuem para a redução das emissões de carbono, já que as plantas utilizadas absorvem CO? durante o crescimento.
Após o uso, esses materiais podem seguir diferentes caminhos. Quando corretamente descartados, muitos biopolímeros biodegradáveis se decompõem em água, dióxido de carbono e biomassa sob condições controladas, como em sistemas de compostagem industrial. Isso evita o acúmulo de resíduos e fecha o ciclo de forma mais sustentável.
No entanto, é importante lembrar que nem todo plástico de fonte renovável é biodegradável, e nem todo biodegradável é de fonte renovável. O ideal é combinar ambas as características — origem sustentável e degradação controlada — junto de políticas eficazes de coleta e compostagem.
Os biopolímeros representam uma nova geração de materiais alinhados aos princípios do ESG (ambiental, social e governança) e da economia circular, que propõem reduzir o desperdício e manter os recursos em uso pelo maior tempo possível.
Mas sua adoção em larga escala ainda depende de avanços tecnológicos, redução de custos e conscientização dos consumidores. Substituir os plásticos convencionais por alternativas sustentáveis exige não apenas inovação, mas também mudança de comportamento — repensar o consumo, valorizar o descarte correto e apoiar políticas públicas voltadas à sustentabilidade.
Os plásticos transformaram o mundo; agora é hora de transformarmos a relação que temos com eles, e os biopolímeros, inspirados pela própria natureza, podem ser o elo entre a tecnologia e o meio ambiente — um caminho promissor para um planeta mais limpo e equilibrado.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
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