COP30 EM BELÉM: A VERDADEIRA INFRAESTRUTURA QUE PRECISAMOS CONSTRUIR

COP30 EM BELÉM: A VERDADEIRA INFRAESTRUTURA QUE PRECISAMOS CONSTRUIR

13.05.2025

Por Darlene Medeiros

Desde 2023, acompanho de perto os movimentos ligados à sustentabilidade nos eventos. E quando a COP30 foi anunciada para Belém (PA), minha primeira pergunta foi: como vão estruturar tudo isso? A resposta ainda está em construção.

Na realidade, ainda há muitas perguntas sem respostas: onde vão dormir as 60 mil pessoas esperadas para a COP30, durante pouco mais de duas semanas de evento em Belém? Onde vão comer, circular, se hidratar, fazer compras? Como será o atendimento a milhares de visitantes de todas as partes do mundo, com diferentes idiomas, culturas e expectativas? Essas são perguntas legítimas — e, mais do que isso, necessárias.

A preocupação com a estrutura da cidade-sede é genuína. Afinal, não estamos falando de um evento corriqueiro ou de mais uma feira de negócios. Estamos falando da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, o maior fórum climático do planeta, que ocorrerá pela primeira vez na Amazônia brasileira. O desafio logístico é real. Treinar equipes, preparar a cadeia de fornecimento, garantir acessibilidade, conectividade, serviços de hospitalidade e segurança são tarefas complexas.

Vale lembrar: na COP27, realizada em Sharm El Sheikh, no Egito, os participantes enfrentaram escassez de água, filas intermináveis e até dificuldade para se alimentar. Em alguns momentos, matar a sede com refrigerante foi a única opção disponível. Mas isso nunca virou o centro do debate. Nunca serviu de argumento para colocar em xeque a legitimidade do evento.

Agora, tente imaginar a mesma situação no Brasil. Imagine o que acontece quando se viaja do outro lado do mundo e se depara com problemas semelhantes por aqui. A repercussão seria outra. Infelizmente, sabemos disso. Há uma expectativa injusta sobre o Brasil — e, mais ainda, sobre a Amazônia — de que, se não for perfeito, será imediatamente taxado de incapaz.

Por outro lado, tenho visto editais, licitações e movimentos de entidades tentando estruturar o evento. Estão contratando consultorias, buscando certificações, organizando processos. E aqui entra um ponto importante — e pouco discutido: a certificação de sustentabilidade dos eventos.

A ISO 20121, norma internacional que estabelece requisitos para um sistema de gestão de sustentabilidade em eventos, é o padrão que vem sendo buscado para a COP30. É a mesma base que implementamos no Essence Wedding, feira sustentável para noivos realizada em São José dos Pinhais (PR). Agora, fica a pergunta: quantos eventos no Brasil são certificados com essa ISO? Que eu saiba, apenas dois: Rock in Rio e Jogos Olímpicos. E, sinceramente, nem o Google tem conseguido me mostrar outro exemplo.

Mesmo assim, os editais exigem profissionais com cinco anos de experiência comprovada em eventos certificados com ISO 20121. Parece justo? Sustentabilidade, vale lembrar, não se improvisa. É uma jornada, construída passo a passo, com planejamento, capacitação e cultura. Não se conquista de um mês para o outro.

Captar grandes eventos é fácil. O Brasil tem se mostrado um destino cada vez mais atrativo. Várias capitais estão comemorando agendas cheias de congressos e feiras internacionais. Mas o que pouco se discute é como está a cadeia de fornecimento que precisa entregar esses eventos. Como estão os fornecedores? As equipes? Os sistemas de apoio?

Fica aqui minha ironia — e minha preocupação genuína. Que a COP30 sirva, não apenas como vitrine de nossa biodiversidade, mas também como um divisor de águas na maneira como tratamos sustentabilidade nos bastidores. Um evento dessa magnitude precisa ir além do marketing e dos discursos. Precisa deixar legado, estruturar processos, formar profissionais e mostrar, de fato, o que é sustentabilidade na prática.

Sobre Darlene Medeiros

Darlene Medeiros é empresária do mercado de eventos, gestora de sustentabilidade e cofundadora da marca Essence Wedding, iniciativa que promove práticas mais conscientes no mercado de eventos. Atua como líder do grupo de trabalho em sustentabilidade da ABRAFESTA, contribuindo ativamente para transformar o setor. Em 2023, foi reconhecida com o segundo lugar no Prêmio Empreendedora Curitibana, na categoria Impacto Socioambiental. Também conquistou Prêmio Ecologia e Ambientalismo em 2024 pela promoção de sustentabilidade em Curitiba (PR). Economista de formação e mestre em Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), desenvolveu sua dissertação sobre a integração da sustentabilidade corporativa e seu impacto nas estratégias de marketing. Sua principal missão é inspirar a adoção de práticas sustentáveis por meio de projetos com impacto positivo e real.