No Dia da Terra, vamos refletir sobre os impactos do lixo que produzimos

22.04.2025
Por Isabela De Marchi
O Dia da Terra, celebrado em 22 de abril, é um marco global que convida à reflexão sobre a forma como a humanidade se relaciona com o meio ambiente. Criada em 1970 nos Estados Unidos pelo senador Gaylord Nelson, a data surgiu como resposta ao agravamento da poluição e à necessidade de mudanças concretas nas políticas ambientais. Desde então, tornou-se um movimento planetário, com a adesão de mais de 190 países.
Em 2025, a 55ª edição do Dia da Terra acontece em um contexto decisivo para o futuro climático. Com a COP30 marcada para Belém (PA), o mundo volta seus olhos ao Brasil e às ações locais de conservação ambiental. Um dos pontos de atenção é a forma como os países lidam com seus resíduos sólidos — e os impactos que isso causa na emissão de gases de efeito estufa.
Conexão entre lixo e mudança climática
O descarte inadequado de resíduos é uma das fontes relevantes de gases como o metano (CH?) e o dióxido de carbono (CO?). Segundo o World Resources Institute, o setor de resíduos responde por aproximadamente 3,4% das emissões globais desses poluentes. No Brasil, o setor emitiu mais de 300 mil toneladas de CO? equivalente em 2023, com grande parte proveniente de aterros e lixões abertos — formas ainda amplamente utilizadas no país.
Esse tipo de emissão pode ser evitado, ou significativamente reduzido, com ações simples como a separação de resíduos recicláveis e orgânicos, o incentivo à compostagem e a valorização da cadeia de reaproveitamento de materiais.
Ações concretas com impacto climático
Dados da Universidade do Colorado indicam que o reaproveitamento correto de materiais tem potencial para evitar a emissão de até 6,02 gigatoneladas de CO? no mundo até 2050 — o equivalente à retirada de mais de 1 bilhão de carros de circulação por um ano. A economia de energia, a redução da extração de matérias-primas e a menor dependência de processos industriais poluentes explicam esse potencial.
No Brasil, no entanto, esse caminho ainda enfrenta desafios: de todo o volume de resíduos gerado, cerca de 30% é reciclável, mas apenas 4% é, de fato, reciclado, segundo levantamento da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).
Responsabilidade global, soluções locais
Com a assinatura do Acordo de Paris, o Brasil e outros países comprometeram-se a limitar o aquecimento global a no máximo 1,5 °C. Para isso, reduzir emissões de forma imediata e sustentável é indispensável. A gestão correta de resíduos está entre as estratégias mais acessíveis e eficazes, especialmente em países em desenvolvimento.
Além de sua contribuição ambiental, a valorização dos resíduos também pode fortalecer a economia circular, gerar emprego e renda em cooperativas de catadores e diminuir a pressão sobre os ecossistemas naturais.
COP30 em Belém: holofotes sobre a Amazônia
A realização da COP30 na cidade de Belém, em 2025, representa mais que uma escolha geográfica: é um gesto simbólico que destaca a Amazônia como elemento-chave para o equilíbrio climático global. O Brasil terá, mais do que nunca, a oportunidade de demonstrar seu compromisso com práticas sustentáveis e políticas públicas ambientais robustas.
Será o momento de apresentar resultados concretos em áreas como desmatamento, transição energética e, principalmente, na forma como a sociedade lida com seus resíduos.
Isabela De Marchi é gerente de Sustentabilidade Latam da SIG