Desperdício bilionário pressiona inflação e revela gargalos na cadeia de consumo no Brasil

Desperdício bilionário pressiona inflação e revela gargalos na cadeia de consumo no Brasil
Foto: Divulgação/Gooxxy

19.07.2025

Economia circular surge como caminho estratégico para reduzir perdas, gerar empregos e estimular o crescimento

O Brasil desperdiça cerca de 46 milhões de toneladas de alimentos por ano, o equivalente a 30% de toda a produção nacional, segundo o IBGE. Esse volume, somado a perdas em outros setores, pressiona a inflação, limita o poder de compra e representa um prejuízo estimado entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões ao ano, segundo o professor Claudio Felisoni, da FIA Business School.

“Esses impactos vão além do valor dos produtos perdidos — envolvem desperdício de recursos naturais, transporte, energia e mão de obra. Sem falar nas consequências ambientais e econômicas de longo prazo”, explica Felisoni.

Um estudo da FIA e IBEVAR aponta que 50% das perdas ocorrem no transporte e manuseio, 30% no varejo e 10% na produção. O consumidor final representa apenas 10%. A alta taxa de desperdício impacta diretamente os preços: a correlação entre vendas de alimentos e inflação ultrapassa 70%.

Diante disso, especialistas defendem a economia circular como solução viável. O modelo propõe evitar o descarte e reinserir produtos excedentes ou próximos do vencimento na cadeia de consumo, com efeitos positivos em geração de empregos, redução de perdas e aumento da eficiência logística.

“Com mecanismos como logística reversa e redistribuição inteligente, o impacto no PIB pode chegar a 1%”, diz Felisoni.

Um exemplo prático é a Gooxxy, empresa de tecnologia que atua na redistribuição de estoques excedentes da indústria para comércios locais. Fundada por Vinicius Abrahão, a Gooxxy já opera no Brasil, México e Colômbia. A empresa mapeia estoques com avarias ou validade curta e conecta-os a pequenos varejistas, transformando prejuízo em valor e gerando acesso a produtos de qualidade por preços mais acessíveis.

“O que antes era descarte, agora pode ser monetizado, com controle total da marca sobre onde e como será vendido”, explica Abrahão.

A Gooxxy também firmou uma parceria estratégica com a DHL Supply Chain, ampliando a capacidade de distribuição e fortalecendo a estrutura logística — ainda um gargalo no país. Hoje, apenas 30% a 35% da frota refrigerada brasileira atende aos padrões internacionais, e menos de 60% da demanda por armazenamento com temperatura controlada é atendida.

Para que o modelo ganhe escala, especialistas sugerem incentivos fiscaiscréditos tributários e regulações que facilitem doações seguras.